Coluna do Zeca: A inexpressão do atual PT mineiro

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A nossa política está quase igual o cruel experimento do sapo em água fria que vai tendo sua temperatura aumentada gradualmente. O resultado todo mundo já sabe, mas a correlação é para enfatizar que cada baixaria da nossa política já não nos gera desconforto. Vai chegar um dia, se é que já não chegou, que ela já padeceu e não notamos.

Usar a rede social oficial do governo para fazer piada de ex-presidente foi muito baixo. Para quem não viu o que aconteceu, resumidamente, com o aval do presidente Lula, foi postado em perfil oficial o meme “toc toc toc” da Polícia Federal batendo na porta disfarçado de propaganda de saúde, numa alusão a operação na casa de Carlos Bolsonaro, suspeito de receber informação privilegiada da Abin.

O objetivo desta coluna não é entrar nessa guerra ideológica e de narrativas. Cada um tem a sua. Está muito difícil de mudar, muito difícil de escutar o outro lado e as redes sociais não ajudam, criando as famosas bolhas. Tudo isso aliado a um péssimo serviço de boa parte da mídia que, ao invés de informar, faz um malabarismo com as palavras para encaixar os fatos dentro da sua linha editorial. Está complicado achar uma análise isenta dos fatos atualmente. Também não é meu objetivo fazer análise da imprensa, só queria ressaltar que esta guerra da esquerda contra a direita e vice-versa está sendo usada pela mídia para alimentar os seus exércitos de links para serem compartilhados pelo zap e, nos cliques, fazem seus quinhões. Lamento lhes informar mas, de alguma forma, os caros leitores estão sendo usados.

O nosso propósito, aqui, é sempre puxar para o nosso quintal, fazer uma análise com o interesse e benefício para os mineiros, desprovida de interesse comercial ou projeto de poder, para que o povo se informe não somente dos fatos, mas das entrelinhas.

Voltando à vaca-fria, achei, sinceramente, que uma voz de Minas Gerais deveria ter sido erguida contra a brincadeira estúpida feita pelo governo federal. Sempre acho isso, os mineiros sempre devem ser os primeiros a erguer a voz contra o mal feito. É a nossa tradição, desde Tiradentes que, até morto, precisa lutar pela sua reputação. E, este grito teria mais peso se tivesse saído de um petista. Isto mesmo, alguém que tenha os ideais acima de qualquer projeto pessoal e que deixasse claro que não admitiria isso no partido dele. Mas, ao longo dos anos, Lula tem feito isso mesmo no PT de Minas Gerais. Não existe projeto de petista no estado, eles são usados para comporem as chapas de interesse do lulopetismo paulista. Temos inúmeros casos dessa natureza: engolem a seco a resolutiva do diretório nacional e ficam menores de tamanho.

O único que voou mais alto foi Fernando Pimentel, uma obra do acaso. Ao substituir o ex-prefeito Célio de Castro, pôde ter um voo solo na PBH e fez uma campanha maravilhosa para governador em 2014. Ganhou a eleição na primeira propaganda eleitoral. Lembram do trem enquadrado na natureza? Foi, “curiosamente”, tirado o vermelho das peças publicitárias impressas. Mesmo assim, é senso comum que Pimentel não é bem quisto no PT nacional, só foi ministro porque entrou na cota pessoal da ex-presidente Dilma. Pena que não fez um bom governo, tinha tudo para avançar em pautas importantes para Minas Gerais. A própria dívida com a União foi resolvida temporariamente por um ato judicial, não político ou administrativo.

Com a saída de Pimentel da cena política mineira, mesmo que momentaneamente, há um vácuo de lideranças sem precedentes no partido. O PT em Minas nunca esteve tão pequeno. Com a velha guarda morrendo ou aposentando, o partido não foi capaz de gerar novas estrelas. Primeiro que não é cultura do partido dividir o “brilho do Lula” com os outros colegas, segundo que os jovens promissores não foram usados no seu tempo certo, não foram dadas a eles as chances de concorrerem como cabeça de chapa em eleições importantes para dar oportunidade de se apresentarem aos eleitores. Quer exemplos? Quando Roberto de Carvalho, que era vice de Márcio Lacerda, quis sair para concorrer a prefeito, foi obrigado a ceder seu espaço, conquistado com tempo, e liderança dentro do partido. Por falar em Roberto de Carvalho, este, sim, é petista raiz, não é petista Nutella de mensalão, não. Se não fosse por ele, Newton Cardoso estaria até hoje comandando o nosso estado.

Por que o habilidoso Gabriel Guimarães nunca teve chance de concorrer a cargo majoritário? O mesmo aconteceu com Miguel Correia, que tinha feito um belo trabalho na Secretaria de Ciências e Tecnologia na gestão de Pimentel. Nenhuma oportunidade.

Agora vem o mais grave. A representatividade do PT mineiro é praticamente zero no terceiro governo de Lula. Se, nos dois primeiros, tivemos inúmeros petistas de Minas Gerais ocupando cargos estratégicos como ministros e até o vice-presidente, agora sobraram somente espaços pouco expressivos do segundo escalão. O respeito a Minas Gerais era tão grande que até sobrou vaga para os partidos aliados no primeiro escalão: Hélio Costa, Anderson Adauto, Walfrido dos Mares Guia, Carlos Meles, dentre outros. E, claro, dentre os petistas mineiros, tivemos em posições estratégicas nomes de peso Luis Dulci, Patrus Ananias, Nilmário Miranda e os falecidos Tilden Santiago e Sandra Starling.

Hoje, o partido é comandado por Reginaldo Lopes, que acompanhou Lula por todo território mineiro na campanha de 2022. Com Reginaldo, Minas Gerais deu a Lula a vitória contra Bolsonaro e isso foi definitivo para a sua terceira conquista. Você e seus colegas mineiros deveriam, explicitamente, exigir do presidente uma representação mais forte neste terceiro governo que, necessariamente, acaba trazendo mais recursos e melhoria de vida de todos os mineiros.

Você, Reginaldo Lopes, acabou aceitando um papel pequeno na reforma tributária e, ainda, passou vexame dando entrevista não sabendo responder o básico do assunto. Qual foi seu papel no debate da proposta de recuperação fiscal de Zema? Você deveria ter tido o protagonismo da negociação, que acabou nos braços do senador Rodrigo Pacheco.

Por essas e outras o PT mineiro está definhado. Falam que vão lançar Rogério Correia para prefeitura de Belo Horizonte. Isso é piada de mau gosto. E, para as outras lideranças, parece que está tudo bem, não falam nada. Marília Campos, Margarida Salomão, vocês vão deixar desta maneira?  É por essas e por outras que Minas Gerais vai ficando para trás. Vamos deixar nossos amigos morrerem na 381 até quando? Quando vai sair, de fato, a ampliação do nosso metrô? O rodoanel para aliviar o nosso já sobrecarregado trânsito? Se depender da omissão desta turma aí, jamais. Ou, no mesmo dia em que o PT assumir falhas, inconsistências e que, aparentemente, pouco se importa com Minas Gerais, ou seja, jamais mesmo.

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