Coluna do Zeca: Precisamos falar do senador Cleitinho

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Todo dia, pela manhã, dou aquela zapeada nas redes sociais dos políticos para saber, diretamente deles, sobre suas mais recentes proezas. Alguns feitos são satisfatórios, outros nem tanto. Dá para ver nitidamente quem usa a ferramenta adequadamente, quem ainda é amador, quem força a barra, quem muda de discurso e quem mente descaradamente. Enfim, tem de tudo, assim como na realidade, afinal as redes são um reflexo da nossa sociedade.

Mas, confesso que, quando chega no perfil do senador mineiro Cleitinho, me empolgo bastante. É tipo aquele aficionado por série no Netflix, ele não vê a hora de pingar um episódio novo na plataforma.

O meu vídeo favorito do Cleitinho é ele enfrentado, de peito aberto, a empáfia do presidente da Cemig. A gravação começa com o senador afirmando que vai manter a câmera ligada e passando a maior carraspana no executivo paulista. Cobra do presidente a luz que não chegou em “milhares” de cidades e, ainda, confronta sem pestanejar que esta casa, a Cemig, não é do presidente, e sim do povo mineiro. Quem não viu, veja, é impagável. E, quando terminar, pule para o vídeo em que ele pergunta para o presidente da Copasa, também em uma mesa de reunião, quanto era o salário dele. Meio sem graça, responde que recebe, no total, 80 mil reais. Foi o suficiente para o senador deitar e rolar, acusando a Copasa de roubo de 170 reais na conta do usuário a título de tratamento de esgoto para quem não tem esgoto. É, simplesmente, sensacional! E, só para deixar claro, não coloquei o nome dos dois presidentes em sinal de solidariedade ao senador, não vale a pena.

Dá para contar nos dedos políticos que fazem esse tipo de coisa: falar na cara, de quem quer que seja, tudo aquilo que o povo tem vontade de falar. Cleitinho conquistou o mineiro com esta autenticidade e coragem. Sempre usando camisas de times de futebol – inclusive já o presenteei com uma do Galo -, ele encarna espontaneamente a figura do povo, “gente como a gente”. Fala uma linguagem direta, que a população entende. Sabe, como poucos, usar as redes sociais a seu favor. Só no Instagram, tem um milhão e meio de seguidores.

Posta, diariamente, vídeos com a mesma narrativa: representando do povo, vai às ruas cobrar melhores serviços para a população. Nos vídeos desta semana, ele estava bastante irritado com uma quadrilha presa em Divinópolis, cidade comandada pelo seu irmão gêmeo, que estaria pressionando a prefeitura por licitações vantajosas em troca de propina. Estava quase espumando de ódio.

Um sujeito que declara seu voto contra um ministro do Supremo Tribunal Federal, como foi recentemente com o Flávio Dino, já demonstra que não tem medo de ser julgado no futuro. Até então, não tem nada contra o senador, apesar de eu achar um furo no discurso o fato de ter usado o avião de seu suplente, um influente empresário da região, na campanha para o senado. Alguém pode usar dos mesmo artifícios que ele usa para questionar este ato. “Mas o senhor não acha imoral usar avião de empresário em campanha política? Qual o interesse do seu suplente na política?” Pau que dá em chico, dá em Francisco também.

Mas, aí vem a pergunta inevitável: este tipo de personagem é o mais adequado para representar um estado no Senado Federal? Um estado da envergadura de Minas Gerais, que já teve grandes senadores, como Magalhães Pinto, por exemplo, estaria perdendo em qualidade na sua representação? Não tem aquela máxima de que, no Senado, tem a nata da experiência dos políticos do Congresso? Gente que já foi governador e, até, presidente da República? Pois é, no começo eu me estranhei também mas, sinceramente, acho que o senador Cleitinho tem uma importância enorme no atual cenário da política brasileira.

Porém, não vejo com bons olhos esse balão de ensaio do governador Zema em lançar o Cleitinho como seu sucessor em Minas Gerais. Governar um estado requer muito mais do que uma câmera na mão e uma denúncia no Instagram. Senador têm três para cada estado, um pode suprir a carência ou despreparo pontual de outro. Governador não. É ele e ponto final. Mas Cleitinho ainda não tem estofo para governar um estado. Não tem, nem de longe, os predicados políticos para isso. Pode ter os morais, mas não as ferramentas para governar um estado tão complexo quanto o nosso.

Do ponto de vista eleitoral, Zema não tem para onde fugir. Já viu que vai ser difícil emplacar o seu vice Mateus Simões e aposta em um reduto cheio de votos, mas com pouca experiência administrativa. Podem chegar bem competitivos no pleito de 2026. Zema, Cleitinho, Nikolas do mesmo lado, apoiando um candidato do Bolsonaro à presidência da República. Vão ter muitos votos, com chances reais de vitória.

Nesse contexto todo, penso no quanto Minas tem a ganhar ou perder. Em predicados que deveriam ser regras para todos os políticos, além dos já citados, Cleitinho tem a humildade. E que ela valha no momento de reconhecer que, para um estado do tamanho e diversidade de Minas Gerais, não adianta usar todas as camisas possíveis de times: o próximo governador terá que entrar para decidir e, quem sabe, marcar um gol de placa da soma de política e gestão, o que há muito não vemos.  

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