A cabeça do governador Romeu Zema não está 100% voltada para a administração do estado de Minas Gerais. É muito cedo para Zema ter este comportamento, ele não está nem na metade do seu segundo mandato. A mosquinha do Palácio do Planalto furou a fila do Aedes Aegypti e já contaminou o governador. Agora que ele ficou sabendo por uma pesquisa que seu nome para substituir Bolsonaro somente fica atrás do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e da ex-primeira dama Michele Bolsonaro, vai, provavelmente, intensificar suas investidas em uma pré-candidatura velada.
O seu cotidiano demonstra, claramente, que ele alterna pautas de governador e pautas de candidato. Estar presente no ato de Bolsonaro, na Avenida Paulista, no último domingo, mesmo que discretamente, é uma mensagem de que ele se coloca como herdeiro do bolsonarismo. Negar em participar de uma reunião com o presidente Lula com os demais governadores também é um ato de campanha antecipada. Ele está mandando um sinal para os eleitores que não concorda com o presidente Lula e que está do lado de Bolsonaro. E, para que dar entrevista a canal de comunicação sediado em São Paulo com viés bolsonarista? O que isto traz de vantagem para nós? Nada, e não passa de uma propaganda precocemente antecipada.
Mas, qual o benefício que estes movimentos prematuros levam aos mineiros? Eu lhes afirmo categoricamente: nenhum. Pelo contrário, se Lula já tinha uma antipatia do governador mineiro por conta da ferocidade recebida durante a campanha de 2022, agora que a situação pode azedar mais ainda, mesmo que seja feita de uma maneira velada, já que Zema pode concorrer contra Lula nas eleições de 2026. Não foi à toa que Lula está dando a Rodrigo Pacheco as chaves de Minas Gerais resolvendo a questão da dívida do estado com a União.
Já dizia Tancredo Neves: ser presidente da República é destino, não é projeto pessoal. E, a história confirma esta tese interessante. Somente na família dele, foram duas vezes. Então, não adianta ficar ansioso, se for para acontecer, vai acontecer, mas do jeito que ele está tocando o processo, é um desrespeito aos mineiros, temos muitos problemas graves que precisam de dedicação exclusiva do nosso mandatário.
E o pior é que Zema está usando a estratégia mais pobre e preguiçosa possível, a de herdar o bolsonarismo, e não ter a árdua e inovadora de reconstruir uma nova direita, que também é antilulista, claro, mas que seja mais moderna e mais estratégica. Ele pode até ter mais intenção de voto agora, mas carrega consigo o peso de erros grotescos que Bolsonaro cometeu. Leva com ele o ranço da cloroquina e da “globo lixo”, por exemplo. Olhem a chance histórica que ele está perdendo! Ele pode ficar menor em 2026, mas é novo ainda, pode chegar em 2030 muito mais preparado para encontrar com o destino.
Além disso, ele tem que preparar a casinha, resolver problemas crônicos, dar respostas a perguntas importantes, porque ele vai tomar muita pedrada quando colocar a cabeça para fora. Ou ele acha que, pelo fato de ninguém o questionar aqui sobre o porquê da desoneração ter saltado de 4 bilhões para 18 bilhões no governo dele, ninguém lá de fora vai questionar? Já até imagino o jornalista ativista com sotaque paulista perguntando para ele em um eventual debate qual a relação dele com a Localiza. Espera para você ver…
Não é possível que ele não tenha nenhum assessor ou guru, o que quer que seja, para dizer que não existe atalho na política? Já não temos provas suficientes? Seja você mesmo, governador Zema! Minas chegou ao poder sendo autêntico, para o bem e para o mal. Não temos tradição de copiar gente de fora.
Não sei o quanto estão valendo os meus conselhos mas, se eu fosse o governador Zema, largaria seus principais conselheiros e procuraria o empresário do cantor Maurício Manieri. Isto, sim, é sair da mesmice e traçar uma estratégia nova e autêntica. Mudou de repertório, largou hit dos anos 90, fez uma repaginada no visual com figurino impecável, formou duplas improváveis, como a com o Jon Secada, tudo isso sem perder a sua essência. Se o meu conselho for acatado, na pior das hipóteses, ficaríamos livres da camisa dobrada com o símbolo de Minas Gerais estampado no peito. Eita trem cafona.
E, só para citar um sucesso do Manieri, Minas canta para você, Zema: “vem me dar seu amor”. Se não der, pelo menos dê mais atenção.
Ps: Leitor ilustre me parabeniza pela coluna “A nova esquerda de BH” e lembra que a fórmula é a mesma desde Hélio Costa e Pimenta da Veiga. Ou seja, os políticos locais são sempre engolidos pelos conchavos de Brasília há anos!