Calor extremo: candidatos ignoram tema em propostas de governo

Mesmo 2023 sendo o ano mais quente da história, candidatos a prefeito ainda não priorizam o tema nas eleições municipais

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O calor extremo, um dos maiores desafios enfrentados pelas cidades brasileiras, ainda não ganhou destaque nas eleições municipais, apesar de 2023 ter sido o ano mais quente já registrado na história da humanidade.

Especialistas alertam que este tema se tornará cada vez mais relevante nos próximos anos, afetando diversos aspectos da vida urbana, desde a saúde até a economia.

O efeito de ilha de calor urbana é uma preocupação crescente. Um estudo publicado na revista Nature revela que as cidades podem ser até 10 graus Celsius mais quentes que áreas rurais próximas, intensificando os riscos à saúde pública.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca a gravidade da situação: entre 2000 e 2019, o calor foi responsável por 489 mil mortes anuais no mundo. No entanto, estima-se que o número real seja pelo menos 30 vezes maior, chegando a 14 milhões de óbitos por ano.

“O calor é um assassino. É um tema que precisa entrar na pauta dos políticos e na cabeça da sociedade. A maior parte das grandes cidades brasileiras não tem adaptação ao calor, e as eleições deveriam ser um nicho de oportunidade para propor medidas inovadoras”, enfatiza o professor Paulo Saldiva, da USP.

Poucas cidades brasileiras possuem planos de contingência para ondas de calor. São Paulo e Rio de Janeiro lideram com protocolos específicos, seguidas por Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza.

As propostas dos candidatos a prefeito geralmente se limitam a programas de arborização urbana. Eduardo Paes (PSD) no Rio, Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, e outros candidatos em diferentes cidades mencionam a criação de áreas verdes como medida de mitigação.

Henrique Frota, do Instituto Polis, explica que a falta de eventos únicos e marcantes relacionados ao calor resulta em menos comoção pública e, consequentemente, menos promessas eleitorais.

O impacto do calor na saúde é alarmante. Saldiva revela que, durante ondas de calor, o número de óbitos em São Paulo dobra, afetando principalmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Transporte e educação: setores críticos

Andrea Santos, da Rede de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Urbanas (UCCRN), destaca o setor de transportes como crucial para a resiliência ao calor. Ela critica a falta de ar-condicionado na frota de ônibus, considerando-a uma questão de saúde pública.

Na educação, um estudo da Universidade Federal de Ouro Preto mostrou que o calor extremo reduz significativamente a atenção dos alunos. O Censo Escolar de 2022 revelou que 70% das salas de aula em escolas públicas não possuem climatização.

Um estudo recente na Nature Medicine mostra que medidas de adaptação já estão reduzindo as mortes por calor. Na Europa, em 2023, estimou-se 47.690 mortes relacionadas ao calor, mas este número seria 80% maior sem as adaptações implementadas nos últimos anos.

“Estratégias de adaptação salvam vidas e, à medida que a Terra esquenta, precisamos de ideias ainda melhores”, afirma Elisa Gallo, pesquisadora do Instituto de Saúde Global de Barcelona, ressaltando a urgência de ações mais efetivas contra o calor extremo nas cidades brasileiras.

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