Fraude de cota de gênero é um dos principais motivos para a alta rotatividade
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Fraude de cota de gênero é um dos principais motivos para a alta rotatividade
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Nos últimos quatro anos, a Câmara Municipal de Belo Horizonte teve uma significativa troca de membros, com 13 dos 41 vereadores deixando seus cargos. Isso corresponde a uma alteração de 32% na composição da Câmara, um número recorde para os últimos 20 anos. Esses vereadores saíram por diversos motivos, incluindo renúncia, eleição para outros cargos ou cassação.
Na legislatura atual, a cassação de chapas por fraude de cota de gênero desempenhou um papel importante nessa mudança. Três vereadores foram cassados por uso de candidaturas fictícias. O suplente de Nikolas Ferreira, Uner Augusto (PRTB), teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2020, assim como César Gordin (Solidariedade) e Wesley Moreira (PP) na última semana, pois a sigla que os elegeu, PROS, fraudou a cota de gênero.
Isabela de Souza Damasceno, presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-MG, acredita que essas mudanças são um reflexo das alterações na lei. Desde a última eleição, a cassação do diploma dos eleitos foi adicionada como punição à fraude na cota de gênero, além da invalidação dos votos do partido. Ela destaca, entretanto, que a cota de gênero é obrigatória desde 2009.
“Não se pode mais tolerar a candidatura de mulheres fictícias. Com sanções mais duras, a lei se torna mais efetiva. É fundamental que os partidos se conscientizem sobre tornar a mulher parte do processo político, as preparem e não as usem só para burlar a lei”, ela avalia.
Emerson Urizzi Cervi, cientista político da Universidade do Paraná, argumenta que não deve ser normalizada a intervenção da Justiça Eleitoral na vontade do eleitor. Ele acredita que o que está acontecendo é uma consequência da falta de responsabilidade de alguns dirigentes. Segundo ele, as fraudes são mais comuns em partidos menores, já que partidos maiores têm mais apelo para atrair candidatas.
Cervi também explica que é natural haver rotatividade nas Câmaras ao longo das legislaturas. Ele afirma que a “renovação e a alteração” dos legislativos é comum, principalmente nas capitais, e que muitos vereadores se candidatam a outros cargos durante o mandato para se manterem vivos na memória do eleitor.
Nos últimos quatro anos, várias mudanças marcantes ocorreram na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Entre elas, destaca-se a saída de Professora Duda Salabert (PDT), eleita deputada federal, sendo substituída por Wagner Ferreira (PDT), e a renúncia de Leo Burguês (PSL), substituído por Janaína Cardoso (União Brasil).
Comparativamente, a legislatura de 2017 a 2020 viu a substituição de 9 dos 41 vereadores. A legislatura 2001 a 2004 ainda detém o recorde anterior de mudanças, com 12 dos 37 vereadores sendo substituídos.