O recente ataque do Irã contra Israel, utilizando mísseis e drones em resposta ao bombardeio israelense ao seu consulado na Síria, trouxe à tona o risco de uma guerra mundial. Especialistas alertam que este conflito pode levar a uma grave crise econômica global, em meio a um cenário de instabilidade agravado pela Guerra na Ucrânia.

Escalada do conflito

O especialista em história da USP, José Arbex Junior, destaca a gravidade do momento. “Quando você envolve o Irã, mexe com toda a estrutura geopolítica de poder. Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma postura historicamente hostil com o Irã desde a Revolução Iraniana de 1979”, explicou. Ele ressaltou que essa tensão pode impedir uma intervenção direta dos EUA, devido às repercussões globais, incluindo o impacto nas eleições americanas.

O controle do Estreito de Hormuz pelo Irã é outro ponto crítico mencionado por Arbex. “Se o Irã fechar o Estreito, os preços do petróleo podem facilmente ultrapassar 150 dólares o barril, o que seria catastrófico para a economia europeia”, alertou. Esta rota é vital para o comércio mundial de petróleo, e qualquer ameaça a sua liberdade de navegação poderia desencadear uma crise econômica sem precedentes.

Reações internacionais

A professora de Relações Internacionais do Ibmec, Natalia Fingermann, também expressou preocupação com a possibilidade de o conflito regional escalar para uma guerra global. “O risco nunca foi tão real nos últimos 40 anos”, afirmou. Ela destacou ainda o perigo do uso de armas nucleares e o impacto na economia global, com possíveis aumentos nos preços do petróleo e inflação generalizada.

A situação diplomática também é delicada. “A China, que depende fortemente do petróleo iraniano, poderia se posicionar firmemente ao lado do Irã em caso de uma escalada maior do conflito”, acrescentou Arbex, sublinhando a importância estratégica do Irã para a economia chinesa.

Manobras políticas

No contexto de Israel, o professor José Arbex comentou que o ataque à embaixada iraniana em Damasco foi uma estratégia de Benjamin Netanyahu para atrair o apoio dos EUA, em um momento de isolamento internacional e pressão interna para sua renúncia. “Netanyahu está usando o conflito para fortalecer sua posição política”, analisou.

Por outro lado, a entrada do Irã no conflito pode ter repercussões para a causa palestina. “Com a atenção internacional desviada para o Irã, a questão de Gaza pode ser negligenciada”, alertou Fingermann. Esta situação é agravada pela dependência de Israel de seus aliados internacionais, como evidenciado na resposta ao ataque iraniano.