Durante um jantar da Frente Parlamentar do Empreendedorismo na última terça-feira (19), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fez duras críticas à Polícia Federal. Segundo ele, a instituição “tenta se desviar do foco” ao dar prioridade a ações de maior visibilidade, deixando de lado uma luta mais efetiva contra a criminalidade. Lira, no entanto, não mencionou quais operações ou investigações da PF considera serem voltadas para a mídia.

“A Polícia Federal, com seu papel institucional importante, muitas vezes busca desviar-se do foco – sendo mais midiático. A luta contra o tráfico de armas, drogas e seres humanos no Brasil é ineficiente, é ineficaz. Ninguém quer trocar tiros com criminosos, as pessoas buscam ações que ganhem mídia, que não encontrem resistência e que não exijam esforço”, afirmou Lira, cercado por empresários e deputados.

A segurança pública como prioridade

Essa observação veio após o empresário Luis Henrique Guimarães, conselheiro das empresas Cosan, Moove, Compass e Vale, discursar sobre a segurança pública. Para Guimarães, esse deveria ser o principal foco do Congresso. “Hoje, o maior obstáculo ao investimento no Brasil não é a reforma tributária, nem a regulação – podemos melhorar em tudo isso –, mas sim a segurança pública”, disse Guimarães.

Lira concordou com Guimarães e criticou a falta de coordenação entre as polícias brasileiras. “Os sistemas policiais brasileiros precisam se comunicar. Uma Polícia Civil que não se comunica com a Militar, que não se comunica com a Federal, que não se comunica com a Força Nacional, que não se comunica com o Exército, com as Forças Armadas, não existe”, reiterou.

Novo Código de Processo Penal

O presidente da Câmara defendeu a aprovação de um novo Código de Processo Penal, com menos benefícios para os condenados. Ele mencionou o chamado PL das Saidinhas, que limita as saídas temporárias daqueles que cumprem pena em regime semiaberto e que deve ser votado pela Câmara nesta quarta-feira (20), após rápida aprovação no Senado.

“Qualquer vida que é tirada, qualquer mulher que é violentada ou morta por uma bala perdida em uma briga de um presidiário que saiu na saidinha e não voltou justifica uma discussão sobre esse tema”, enfatizou Lira durante o jantar.

Redução da maioridade penal

Lira também fez uma ponderação sobre a redução da maioridade penal, uma medida defendida por parlamentares de direita. “Passamos em 2015 por um tema muito difícil na CCJ, eu era presidente, quando votamos a (redução da) maioridade penal. Os jovens eram recrutados pelo tráfico para servir de aviãozinho, por serem menores de idade, por não serem presos, por terem a proteção do Estado”, lembrou.

Ele ainda afirmou que o sistema prisional brasileiro está fragilizado. Falou sobre a fuga de dois detentos do presídio federal de Mossoró (RN), que ocorreu há mais de um mês. “Não temos um comando único, uma diretriz única. Estamos com um sistema falho, isso é um fato. Este será o tema recorrente de discussões este ano, deste embate eleitoral, e nas próximas eleições será evidente. A segurança pública está fragilizada e isso afeta a vida de todos nós”, ressaltou.

Lira acredita que aqueles que apresentarem propostas para combater a violência urbana de maneira mais dura terão mais chances de vencer as eleições em 2024 e 2026. O presidente da Câmara destacou que os governadores que adotam essa posição tendem a ser melhor avaliados publicamente.

“Há especulações políticas de que, para qualquer candidato à presidência da República em 2026, um assunto que vai ganhar destaque e ser debatido na mídia é a segurança pública. Não é à toa que onde há um tratamento mais enérgico por parte dos governos estaduais, esses governos estão com a aprovação em alta”, concluiu Lira.